sábado, 27 de junho de 2015

MÚSICA: Review do álbum "Beyoncé - Platinum Edition" de Beyoncé

Beyoncé - Platinum Edition (2014) - Beyoncé

1) "Pretty Hurts" - ☆☆☆☆☆

 


Prometendo um trabalho de qualidade, Beyoncé apresenta um sucesso garantido vindo de Sia, tornando a sua proposta de álbum visual muito realista. Retratando a hipocrisia e superficialidade do mundo em que vivemos, a música fala do facto de a luta pela beleza inatingível causar dor e de a própria mãe a ter incentivado desde pequena a ser bonita e a não valorizar tanto a inteligência.
Estamos na presença de uma crítica social, de uma crítica à educação dada às crianças e de uma confissão no que toca a autoestima e autoaceitação.
"Perfection is the disease of a nation” e “It’s the soul that needs surgery” são as frases mais representativas da aura de toda a música.


2) "Haunted” - ☆☆☆☆☆

 

“Haunted" inicia-se com um ritmo frio e introduz Beyoncé num rap acerca da existência humana e da população que está viva sem realmente viver.
Recorrendo a harmonias ecoantes e a uma bass music que nos insere num ambiente amplo e citadino, a letra passa discretamente para um tema romântico, onde ela fala acerca de estar a assombrar alguém e achar que essa pessoa também a está a assombrar. Num momento sedutor, a cantora sussurra “You want me? I walk down the hallway, you’re lucky. The bedroom’s my runway. Slap me! I’m pinned to the doorway. Kiss, bite, foreplay.”
Quase no fim, a música cai num hip-hop movido por sintetizadores que confere alguma energia ao mistério de toda a música.


3) "Drunk In Love" (feat. Jay-Z) - ☆☆☆☆☆


Uma voz agudizada ao estilo árabe traz-nos para um ambiente erótico e feminino. Beyoncé canta sobre estar rendida à paixão e se encontrar literalmente embriagada de amor, apesar das luzes intensas e de todos os bens materiais que a rodeiam.
Sobre uma batida urbana e sincopada, ela rende-se ao contacto físico e aos momentos íntimos, tornando a letra bastante explícita apesar das metáforas (por exemplo, “wood” [madeira] para o órgão sexual masculino, “watermelon” [melancia] para o sémen, etc.) neste caso do marido, o rapper Jay-Z que também participa na música e faz referência a momentos famosos da cultura pop (“I’m Ike Turner, turn up, baby, no I don’t play. Now eat the cake, Annie Mae, I said eat the cake, Annie Mae”) sem nunca quebrar o mood.


4) "Blow - ☆☆☆☆

A cantora usa “Blow” para mostrar os seus dotes vocais num electro-funk muito vintage, bem ao estilo das divas de décadas passadas.
E, mantendo a sensualidade da música anterior, aqui Beyoncé também não poupa nas metáforas.
Mais ou menos a meio da música, depois de anunciar que esta é dedicada a todas as mulheres crescidas - destacando mais ainda o conteúdo adulto - surge um ritmo orientado por beatbox ao mesmo tempo que ela pede que lhe tirem a virgindade através da metáfora da cereja: “I can’t wait ‘til I get home so you can turn that cherry out. Turn that cherry out, turn that cherry out” e acaba a música com um verso em francês e a ponte da canção uma vez mais.


5) "No Angel” - ☆☆☆☆


Bastante intimista, a cantora parece ainda preocupada em abordar o seu romance com um timbre frágil e carente.
Afirma que ainda ela não seja nenhum anjo, o seu par também não o é, algo que ela se apercebeu agora que o conhece melhor, o que deixa espaço para muitas aventuras entre os dois. Apesar de se distanciar das fórmulas comerciais, Beyoncé não soa propriamente original, o que resultou numa música boa mas não de excelência como várias outras deste mesmo álbum.
Baby, put your arms around me, tell me I’m a problem. Know I’m not the girl you thought you knew and that you wanted (...) But I know that’s why you’re staying


6) "Partition”- ☆☆☆☆☆

 

Uma das músicas melhor trabalhadas, a intérprete mostra várias facetas: de diva que interage com os fãs antes de a canção começar, de cantora e ainda de rapper. Com um sub-baixo intenso a orientar a primeira parte da música, somos apresentados ao seu alter-ego do ghetto, Yoncé, uma mulher confiante e consciente dos seus dotes físicos, que sabe o impacto que tem nas pessoas que a veem. “Drop the bass, man, the bass get lower. (...) High like treble, pumping on the mids, the man ain’t ever seen a booty like this. (...) I sneezed on the beat and the beat got sicker, Yoncé all on his mouth like liquor”.
Na segunda parte, a cantora relata a sua vida de estrela e a sua falta de privacidade, bem como o envolvimento sexual com o seu par. Uns versos em francês ironizam o facto de os homens acharem que as feministas detestam o sexo, quando na realidade elas adoram, rematando com o refrão e sintetizadores enérgicos.


7) "Jealous" - ☆☆☆☆☆


Beyoncé é humana, tendo por isso inseguranças e receios típicos de qualquer pessoa numa relação: o medo da perda, o esforço para continuar a ser interessante para o seu par romântico e, acima de tudo, o ciúme. Jurando que se ele mantiver a promessa dele ela também vai manter a dela, a música consegue ser emocional, frágil e ao mesmo tempo libertadora. O sofrimento que sente implica uma necessidade de mudança, mas ao mesmo tempo a ligação afetiva não consegue ser quebrada.
And I hate you for your lies and your covers. And I hate us for making good love to each other. And I love making you jealous but don’t judge me. And I know that I’m being hateful but that ain’t nothing. That ain’t nothing. I’m just jealous. I’m just human. Don’t judge me.A sonoridade é simples e simultaneamente bem conseguida, com gritos ecoados e uns riffs de guitarra disfarçados no ritmo que exalam toda a tensão acumulada ao longo da música.


8) "Rocket” - ☆☆☆☆



Com um género soul das suas raízes no qual se sai sempre tão bem, a voz de Beyoncé brilha na suavidade dos sons.
I do it like it’s my profession, I gotta make a confession. I’m proud of all this bass, let me put it in your face. By the way, if you need a personal trainer or a therapist, I can be a piece of sunshine, inner peace, entertainer, anything else that you may read between the lines. You and I create waterfalls
A temática engloba as mais variadas fantasias e diversões que um casal pode ter, mergulhando-nos num estado de espírito alegre, relaxado e sem compromisso.


9) "Mine" (feat. Drake) - ☆☆☆☆☆

 

Caindo novamente na instabilidade emocional, desta vez na indecisão de manter ou acabar uma relação, a cantora coloca o ouvinte num lento transe sonoro até ao momento em que Drake intervém.
Sob a perspetiva de uma vida a longo prazo, Beyoncé abre o seu coração e a sua mente, deixando-nos conhecer os seus sentimentos e pedindo que haja menos drama na relação, apesar de estar consciente de que ela é muitas vezes a fonte dos problemas.
Tanto Drake como a cantora cantam sobre querer que a outra pessoa lhes pertença: “I just wanna say you’re mine, you’re mine. Fuck what you heard, you’re mine, you’re mine. As long as you know who you belong to.


10) "XO" - ☆☆☆☆☆


Um título puro para uma música pop pura também.
Romântica e consciente de que a vida passa rápido, Beyoncé pede “Baby, kiss me. Before they turn the lights out” e mais tarde “Before our time is run out”, em referência à morte.
E ao mesmo tempo que a música é brilhante na medida em que oferece diversão com muito conteúdo, o refrão fica facilmente na cabeça e incentiva a viver momentos inesquecíveis com a pessoa de quem se gosta, porque essa é uma das melhores coisas que a vida oferece.


11) "***Flawless" (feat. Chimamanda Ngozi Adichie) - ☆☆☆☆☆



Com uma das melhores produções do álbum, se não mesmo a melhor, Beyoncé defende os seus ideais sem espaço para dúvidas. O poder das mulheres está nas mãos delas e cada pessoa é perfeita da maneira como é: “I woke up like this, we flawless”.
Somos injetados com uma música eletrónica frenética que incentiva à revolução pretendida pela cantora: o feminismo não é apenas uma posição a considerar, é a base de toda a igualdade.
Com o discurso de uma escritora nigeriana acerca da injustiça de ser aceitável um homem tratar o seu corpo sexualmente e uma mulher não, somos deixados com uma noção fundamental: “Feminist. A person who believes in the social, political and economic equality of the sexes”.
Os ritmos trap com vozes distorcidas tornam a música um verdadeiro hino contemporâneo porque, para além da temática, oferecem a sonoridade mais atual da indústria musical.


12) "Superpower” (feat. Frank Ocean) - ☆☆☆




Na sequência da qualidade da música anterior, esta acaba por soar bastante mediana, ainda que possa ser vista como sofisticada na sua abordagem ao amor invencível. A letra, ainda que bem formulada, não nos presenteia com um refrão memorável em nenhum momento.
But nothing could slow us down, couldn’t tow us down. I thought I could live without you, ‘cause nothing I know can break us down”.
Nem as harmonias amenas, nem a discreta participação do cantor Frank Ocean, nem sequer os estalinhos ocasionais resgatam a produção, parecendo apenas uma filler no álbum.


13) "Heaven" - ☆☆☆☆




Um clássico piano traz uma nova qualidade ao álbum, bem como uma letra triste acerca da perda de alguém; neste caso, um aborto natural que Beyoncé teve. Deparamo-nos com a desorientação da cantora e um desespero que contrasta com toda a agressividade das músicas anteriores sobre sexo e autovalorização.
A memória de momentos de esperança com o marido quebram a repetição de que a música é vítima “We laughed at the darkness, so scared that we lost it. We stood on the ceilings, you showed me love was all you needed”, finalizando com um recorrer à religião em momento de conformismo cru, uma vez que o tema justifica isso mesmo.


14) "Blue" (feat. Blue Ivy) - ☆☆☆☆



Beyoncé não podia deixar de honrar a sua filha com uma música, incluindo até a participação da própria no fim e deixando os seus fãs ter um vislumbre da sua vida familiar.
Os seus dotes maternais refletem-se na letra “Each day I feel so blessed to be looking at you, ‘cause when you open your eyes, I feel alive.” Começa delicada e acaba por se intensificar mas sempre graciosamente, representando o amor da cantora por Blue Ivy.
Se até aqui tínhamos assistido às várias dimensões de Beyoncé enquanto celebridade, esposa, amante e pessoa, temos aqui a prova concreta da sua faceta de mãe.


_________________ PLATINUM EDITION_________________

O álbum lançado em 2013 teve um relançamento com o acréscimo das seguintes músicas:

15) "7/11" - ☆☆☆☆☆



Com uma vibração dançante, a cantora não poupa nas batidas hip-hop e canta sobre divertir-se sem quaisquer preocupações.
Faz referências a álcool e à sua atitude inconsciente em contexto de festa, não se esquecendo de impressionar os outros e exibir-se como se faz em qualquer típica música urbana, proporciando até momento de palmas para o twerk.
Flexin’ while my hands up, my hands up, my hands up, I stand up with my hands up”.


16) "Flawless Remix" (feat. Nicki Minaj) - ☆☆☆☆☆



Se na versão original a música é um trap de intervenção social, aqui torna-se mais pessoal com Beyoncé a falar de dinheiro, bens materiais e até intimista fazendo referência a episódios mediáticos como o do desentendimento do seu marido Jay-Z e irmã Solange Knowles no elevador (“Of course sometimes shit go down when it’s a billion dollars on an elevator”).
O refrão é proferido, seguido por um verso sobre confiança e um trompete militar muito em voga, finalizado pelo rap de Nicki Minaj imperdoavelmente bem feito com calão por cima de hi-hats reverberantes, que se refere inclusive ao Instagram e as proclama como as verdadeiras referências internacionais na indústria.
The queen of rap, slayin’ with queen Bey”.

17) "Drunk In Love Remix" (feat. Jay-Z & Kanye West) - ☆☆☆☆☆




Kanye West entra na música com graves harmoniosos revelando logo o assunto sexual a tratar (“You willl never need another lover, ‘cause you a milf and I’m a motherfucker”) e expondo todos os planos que tem para a intimidade, até ao momento em que Beyoncé traz o seu timbre e letra icónica (“Feelin’ like an animal with these cameras all in my grillz”) com quebras ocasionais para conferir dinamismo à música de forma genial (“Flashing lights!”).
A sua voz acaba por se projetar como na “Drunk In Love original e segue a lógica da mesma com a participação de Jay-Z.

18) "Ring Off" - ☆☆☆☆



Camuflado com sons um pouco festivaleiros, a cantora aborda aqui os casamentos com muitos anos e os relacionamentos que com o tempo enfraquecem, acabando por deixar as pessoas amarguradas.
“I wish he said I’m beautiful, I wish it didn’t hurt at all. I don’t know how I got here, I was once the once who had his heart”.
Uma ode a novos inícios e à procura da felicidade. “After all your tears, after all that pain’s all clear. Mama, after all them years, we can start all over again”.

18) "Blow Remix” (feat. Pharrell Williams) - ☆☆☆☆



Com poucas mudanças relativamente à original, “Blow” continua a apostar na sensualidade e nos duplos sentidos, incluindo Pharrell Williams para ajudar a projetar a música e garantir que o R&B não passa despercebido.
If you’re thirsty and in love just hit your boy

18) "Standing On The Sun" (feat. Mr Vegas) - ☆☆☆☆☆

Finalizando de maneira despretensiosa, Beyoncé traz um ritmo de verão e um refrão que relembra os seus tempos de Destiny’s Child, o que parece ser o fim ideal para o seu álbum intimista.
A participação de Mr Vegas não era crucial mas conferiu-lhe todo um sentimento de festa caribenho e tropical que contribui para o impacto da música que recebe o sol e exige animação.
Like the sun, so turn up, turn up”.

Análise geral:
Letra - ☆☆☆☆
Sonoridade - ☆☆☆☆☆
Conceito - ☆☆☆☆☆

Avaliação final:

☆☆☆☆☆