É
impossível ter vivido neste planeta nos últimos anos e não ter reparado na
crescente popularidade dos rabos.
Por muito que o título e
a primeira frase deste post pareçam uma piada, é a realidade:
as nádegas passaram a ser o centro das atenções da cultura ocidental. E a
pergunta é: qual é a razão?
Facto: um derrière “bem feito” é sinal de sensualidade, tal como qualquer parte do corpo considerada atraente pelo ser humano. Dito isto, será que a recente obsessão que este post explora fica justificada na totalidade?
Se olharmos para o passado, constatamos facilmente que os anos 60 se focaram nas pernas devido à rebeldia das
minissaias e os anos 80 parecem ter valorizado um peito avantajado em
alguns momentos. Os anos 90, por outro lado, impuseram a magreza extrema, sem nenhum destaque em particular, ao ponto de a anorexia se tornar o assunto mais polémico do mundo
da Moda e o maior objetivo de grande parte da população adolescente. Os anos
2000 trouxeram cinturas descidas e estas foram as maiores promotoras da barriga lisa; basta ver fotografias de ícones como Shakira e Britney Spears nessa
fase.
Pensemos nos dias de hoje. Estarão os anos 10
deste século a exigir um grande rabo?
Os homens heterossexuais apreciaram sempre as curvas femininas; isto é, qualquer parte
do corpo da mulher que desperte os seus instintos sexuais.
Bem mais específicos do que
eles são os media ao afirmaram que não é preciso um
peito preenchido com silicone nem um abdómen muito tonificado quando se pode ter um rabo avantajado.
Como assim
“avantajado”? Isso quer dizer gordo? Para alguns apologistas das medidas pequenas talvez.
Para os restantes? É algo entre o grande e o sexy, é aquilo que Kim Kardashian tem com o seu estatuto de mulher mais pesquisada do mundo e
representante máxima da selfie generation. A prova está na sessão fotográfica para a revista Paper onde aparece nua, parando completamente a Internet e fazendo os sociólogos repensarem as suas teses de doutoramento.
Será
isto o resultado de uma cultura afro-americana disseminada pelo hemisfério norte que vangloria o traseiro? Ou serão os designers de moda os culpados por se
terem lembrado que os calções a expor as nádegas são ideais para o guarda-roupa
de uma jovem moderna?
Seja como for, o rabo é
omnipresente na música pop. E ninguém leva esta causa tão a sério como a rapper
Nicki Minaj, conhecida tanto pelas suas curvas exageradas como pelas suas
letras sem pudor. Tem peito grande, mas o tamanho da parte de trás é mais polémico
ainda. Produto de cirurgias plásticas ou não, ela recorre ao twerk (a “dança” que representa a Geração Y,
segundo alguns) enquanto referencia o hip-hop de Sir Mix a Lot em Anaconda,
uma música tão gráfica como metafórica, ao ponto de se tornar o maior hino de
festa do ano passado.
O ouvinte fica em
dúvida se o vídeo no limite do explícito permitido pelo YouTube é uma paródia
da atualidade ou uma ode à mesma. A verdade é que o público se diverte e acaba
por adorar, por muito reprovador e moralista que tente soar inicialmente ao ouvir "Oh my
gosh, look at her butt" ou "Where my fat ass big
b*tches in the club?".
Aqui uma anaconda
não é - definitivamente - uma cobra; por isso sim, a música é controversa ao defender a liberdade de a mulher fazer o que quiser com o seu corpo, mas peca
por se sexualizar de forma extrema - o que não é visto como feminismo por muita gente
–, mesmo que Nicki se mostre totalmente no controlo da sua sexualidade e do
próprio homem.
Se um viciado em musculação faz questão de
tirar a camisola para mostrar os seus peitorais definidos e rappers do sexo masculino não evitam falar dos seus genitais
avantajados, por que é que se torna reprovável alguém do sexo feminino dizer
orgulhosamente "I got a big fat ass"?
Temos também a música de Iggy Azalea, no
mesmo ramo musical de Nicki, comJennifer Lopez, noutros tempos um exemplo de abdómen liso e que nos dias de hoje se rende à adoração do rabo grande. "Big, big booty, what you got a big booty".
Rihanna já tinha feito twerk em Pour It Up e, antes dela, imensas mulheres negras em videoclipes de hip-hop. A febre é maior agora do
que em qualquer outra época porque até as artistas caucasianas se tentam incluir neste padrão (Miley nos VMAs de 2013 diz-vos alguma coisa?).
E o próprio mundo
do fitness aderiu: o exercício do
momento não são os abdominais e muito menos as flexões. São os squats (agachamentos), que trabalham a
zona traseira das coxas e – obviamente – levantam os glúteos.
Melhor parte disto? A anorexia está out.
As curvas e a saúde estão in.
Meghan Trainor sabe do que fala no seuhit single. "Yeah, my mamma she told me don't
worry about your size. She says boys like a little more booty to hold at night".
Como a liberdade sexual parece
estar no bom caminho e a multiculturalidade não é nenhuma novidade, não há razão para ficarmos surpreendidos seja com o que for, muito menos com o culto do corpo da atualidade. “My anaconda don't want
none unless you got buns, hun”.
Tal como com a Moda, não
acho justo começar a falar dos dias de hoje sem passar pelos anos
anteriores. A música comercial está repleta de eletrónica e cada vez se torna
mais difícil ligar o rádio para ouvir uma música puramente acústica. Vão existir sempre bandas rock, cantores pop e artistas alternativos. E da mesma forma que
isto acontece, vão haver sempre sonoridades mais populares numas épocas do que noutras. A música clássica já não é sinónimo de música comercial como seria há
duzentos anos atrás; aliás, a música comercial de há dois anos não é a mesma de
hoje. E o que vou mostrar aqui é exatamente o que a música pop instituiu como
comercial desde 2010 até agora.
Se abriu este post para se
informar acerca da música de agora, pode fechar a página (depois de adicionar o
blogue aos favoritos, sim?) e voltar dentro de uns dias para ler os
próximos posts, que vão estar em breve no blogue.
Caso tenha curiosidade em
saber quais foram as tendências musicais da última meia década, leia até ao fim
porque vou tentar situar-vos com várias músicas e explicações. Atenção para o facto de isto não ser o resumo dos sucessos dos últimos tempos mas sim das tendências. Muitas músicas dos últimos cinco anos vão ser ignoradas por não se enquadram naquilo que me proponho a descrever.
Se o milénio se caraterizou
por um início repleto de R&B, a partir de 2007 deu-se um aumento
impressionante da popularidade da música eletrónica na produção pop. Britney
Spears não perdoou com músicas dançáveis nos seus discos Blackout e Circus, Lady
Gaga surgiu com a sua extravagância visual e sonoridade synthpop ao estilo anos 80 em Just
Dance e Rihanna deixou de cantar under
the umbrella para ser uma verdadeira bad
gal que utiliza os sons mais improváveis e batidas mais animadas.
Por volta de 2010, quase
todas as artistas pop usavam uma polémica ferramenta que parecia muito útil por
duas razões:
Primeiro, não precisavam de ter uma
voz cristalina nem uma afinação exemplar porque esta ferramenta disfarçava
quaisquer imperfeições.
Depois, podiam exagerar de forma
artística e tornar a voz totalmente artificial, dado que esse efeito era aceite
pelo público, tornando o som de todas as músicas, segundo os produtores na época, moderno e até futurista.
Estou a falar do autotune, um criador de áudio que usa
uma matriz sonora para corrigir os erros vocais e o instrumental das músicas.
E quem melhor para ilustrar
essa fase da música do que a rainha do autotune?
Kesha teve o seu maior hit com o paradigmático electropop de Tik Tok:
Dominou as rádios com Your Love Is My Drug:
E o cúmulo da voz robótica
em Take It Off:
Isto arrastou-se para músicas como We R What
We R, outro exemplo da popular distorção vocal:
Entre outras músicas desta época bem sucedidas devido à eletrónica constam Whatcha Say de Jason Derulo, Break Your Heart de Taio Cruz com Ludacris, OMG de Usher com will.i.am e Bad Romance
de Lady Gaga.
Telephone também marcou
a cultura pop com os seus sintetizadores contagiantes naquilo que foi considerada
uma das melhores parcerias de sempre - Lady Gaga e Beyoncé.
O electropop é a galinha
dos ovos de ouro dos produtores e isso foi refletido nos álbuns The Fame e no EP The Fame Monster de Lady Gaga, no Rated R de Rihanna, no Kiss
& Tell de Selena Gomez e em Miley Cyrus no robótico disco Can’t Be Tamed. E como estas, muitos
outros artistas.
2011 foi um ano explosivo
na sonoridade e, acima de tudo, foi um ano de grandes divas com grandes
músicas.
Rihanna dominou sozinha em S&M e acompanhada por David Guetta em Who’s That Chick. Katy Perry foi obscura
na música E.T. com Kanye West,enquanto Lady Gaga
fazia um manifesto à diversidade em Born
This Way. Houve sem dúvida uma adoração pela temática alienígena por parte de
ambas as artistas.
Beyoncé marcou o verão ocidental com a sua Run The World (Girls) usando o sample de
Major Lazer, tal como Nicki Minaj surgiu em força com Super Bass e Taio Cruz com o sucesso Dynamite. Já LMFAO eram o grupo do momento
com a sua Party Rock Anthem.
Rihanna teve um dos maiores
sucessos da sua carreira ao produzir o single We Found Love como música assumidamente house ao lado do DJ Calvin Harris.
Os vocais saturados de
tantas distorções começavam a desaparecer e o autotune passou a ser usado de forma
muito menos evidente para pequenas correções que não são detetadas pelo ouvido leigo.
Mas a eletrónica continuou a dominar o terreno e tornou-se impensável produzir
um sucesso musical sem o banhar com sintetizadores.
Enquanto isso, um género
irreverente da música britânica estava a surgir e infiltrar-se nas músicas pop
de algumas cantoras.
O que é dubstep?
É um género de música electrónica
originado em Londres que se carateriza por linhas de baixo intensas e ritmos reverberantes. Tem caraterísticas do dub (um tipo de reggae), em particular nas oscilações de baixo (bass wobble), e do 2-step na batida sincopada.
A linha de baixo (bassline) não precisa
de uma explicação muito extensa: é o som grave que acompanha uma música e
que pode ser quase imperceptível caso seja sub-baixo (sub-bass) ou claramente audível se for de gama média. O dubstep usa linhas de baixo de todas as gamas.
Uma
música deste género tem as fases de qualquer música eletrónica: um build-up,
o som em escalada que leva o ouvinte a um clímax e o drop ou breakdown, que é quando
a música acontece, por assim dizer.
Dá-se um
drop geralmente para o baixo passar a ser o
centro das atenções, e é aqui que somos confrontados com as oscilações de baixo, carinhosamente
chamadas pela onomatopoeia “wobwob”, que conferem à sonoridade uma aura intensa e sombria.
Uma
síncope na batida é quando a mesma não acontece de forma regular como na housemusic, dando-se uma sobreposição que não é mais do que uma quebra
rítmica.
O maior
promotor do género foi possivelmente o americano Skrillex que decidiu tornar o
dubstep um género de festa para as massas, resultando no brostep, uma versão mais pesada e quase “metaleira”. Esta variante utiliza mais o baixo de gama média acompanhado de sintetizadores agressivos e, mesmo não
sendo comercial, teve impacto suficiente para mudar a indústria musical.
Se Rihanna
tinha feito experiências no disco Rated R
com Mad House e G4L, e de forma amena em Skin
do albúm Loud, em Talk That Talk de
2011 ela foi uma fã declarada; exemplo disso são Red Lipstick e o break do
single You Da One. Antes dela, porém,
os produtores de Britney Spears no albúm Femme
Fatale (2011) já tinham anunciado o simpático popstep (aquilo que os críticos passaram a chamar à música pop quando influenciada pelo dubstep).
Atribui-se
o primeiro sucesso do género ao drop
da música Hold It Against Me, mas
todo o álbum está repleto de dubstep
(destaque para Inside Out).
Britney
já tinha feito uma experiência em 2007 com Freakshow,
sendo a verdadeira precursora desta tendência.
Demi
Lovato com a música Unbroken do álbum homónimo foi outra tentativa da técnica de Britney: música electropop que quase no fim sofre uma
súbita intervenção do género-tendência.
Cher
Lloyd também se assume como amante do som na pesada Dub On The Track.
Outras influências mais sóbrias foram Katy Perry em Who Am I
Living For?, Lady
Gaga que tenta não se render à tendência mas faz uma quebra tribal-techno em Judas que nos confirma que se apercebeu da direção da música, até
pelo remix do DJ White Shadow que
incluí no álbum, eAlex
Clare em Too Close, tal como o breakdown sintético no meio de Good Feeling de Flo Rida.
Não esquecendo Jason Derulo no ritmo de Bleed Out e nos wobbles de Pick Up The Pieces.
Taio Cruz ofereceu-nos Tattoos, uma música bem mais arriscada do que seria de esperar.
Com tudo isto, a era do dubstep estava instituída.
Os outros
estilos musicais continuavam a existir, mas a realidade é que, se em 2011 o génerosurgiu em força, em 2012 consolidou-se
e tornou-se sinónimo de música pop.
Rita Ora
lançou, com Tinie Tempah, R.I.P. e,com J. Cole, Love And War.
Give Me All Your Luvin’ de
Madonna é perfeitamente comercial com o popstep
depois do rap de Nicki Minaj e durante o rap de M.I.A.. O breakdown
falsificado em Superstar também pode ser notado, ainda que não tanto como os wobbles
violentos no final de Gang Bang.
Nicki
Minaj cai na sonoridade expectável enquanto faz o seu rap no break de
Automatic, dando-nos um travozinho do mesmo em Whip It e em Young Forever.
Já em Up In Flames assume o dubstep sem medo, enquanto em Va Va Voom imita o efeito a 2/3 do fim.
A banda
pop-rock Maroon 5 também acenaao género no mesmo momento em Fortune Teller e incorpora-o mais explicitamente em Lucky Strike.
Kesha aproveita a tática em duas músicas: um drop dinâmico em Warrior e um break inspirado apesar da batida repetitiva em Supernatural.
O ritmo
do singleYour Body de Christina
Aguilera é notável, mas não tanto como a música que abre o seu álbum
de 2012: Lotus deixa-nos lentamente
em transe com os seus triplets (ritmo que se desenlaça em três batidas seguidas), a versão simplificada da síncope já mostrada antes.
Chris Brown mostra-nos a força da bassline em Bassline.
E Lana
Del Rey, apesar de mais alternativa, também experimenta o
género na música Dark Paradise.
Katy Perry volta a
fazê-lo em Dressin’ Up.
Tal como Carly Rae Jepsen, a hitmaker de Call Me Maybe, fez em alguns momentos de Wrong Feel So Right e na versão de Tonight I’m Getting Over You com Nicki Minaj, especialmente na parte da rapper.
Radioactive dos Imagine Dragons também não escapou.
Digno de
destaque é o single de sucesso da cantora Taylor Swift, I Knew You Were Trouble. A letra sobre desilusão amorosa funde-se
na perfeição com a linha de baixo melancólica e com o triplet – mais uma tentativa bem sucedida da infusão do dubstep.
Outros
artistas a render-se à febre foram Big Time Rush em Windows Down, introduzindo um baixo raivoso com a tirada do momento (“drop!”), Little Mix apostam na batida da obscura DNA, o discreto breakdown a 3/4 do final de Locked Out Of
Heaven de Bruno Mars, Adam Lambert também o tenta a 2/3 em Cuckoo e Leona Lewis em Come
Alive e no ritmo sincopado que culmina num pseudo-dubstep em Glassheart.
Justin
Bieber não podia ser exceção. E como prova disso temos o ritmo sincopado de As
Long As You Love Me e a aura da música Take
You. Em Beauty and a Beat, o
cantor recorre a momentos de dança acid
house na tentativa de fugir à sonoridade vigente mas acaba por ter a
participação de Nicki Minaj sobre um
ritmo que o denuncia.
Rihanna
lança ainda em 2012, no albúm Unapologetic, a música Jump fortemente
influenciada pelo brostep de Skrillex
e Lost In
Paradise, mais próxima do género original britânico.
Já Ellie
Goulding homenageia a bass music inglesa nos
drops da música Figure 8.
Em 2013,
ainda que o electropop fosse igualmente comum, tal como o house e as habituais baladas românticas, a música
continuou a ser infetada pelo género explorado até aqui, ao ponto de alguns países concorrerem ao Festival Eurovisão da Canção com verdadeiras infusões dubstep nas suas canções:
E vários foram os artistas que quiseram
fazer experiências com a moda:
Iggy
Azalea com T.I. em Change Your Life.
Selena
Gomez tem um flirt com o ritmo desacelerado no drop de Slow Down, bem como com aquilo que a cantora chamou baby dubstep emNobody Does It Like You e em Stars Dance.
Demi
Lovato com os quase imperceptíveis breakdowns após o refrão de Never Been Hurt, algo muito mais suave do que tinha experimentado em Unbroken dois anos antes.
Miley
Cyrus com o “wobwob” emocional de Drive
e o camuflado de FU.
Enrique
Iglesias experimenta fazer sobreposições com o ritmo em Heart Attack.
The Saturdays dão uma
oportunidade à tendência dos 2/3 em Don't Let Me Dance Alone e Problem With Love.
E Fergie usa o mesmo cliché perto do final de A Little Party Never
Killed Nobody (All We Got) com Q-Tip e GoonRock.
One
Direction usam um confortável drop e uma síncope ocasional em Little
White Lies;
Zendaya, que se afirma com o hip-hop no seu primeiro álbum, não resiste a recorrer ao dubstep em Replay, Butterflies, Only When You’re Close e Bottle You Up.
Entretanto,
a música recebe uma duvidosa influência oriental que sobressai no falso dubstep de Come & Get It de Selena Gomez, no hip-hop indiano de Bounce de
Iggy Azalea e na sonoridade de Legendary
Lovers de Katy Perry.
O público saturou-se da fórmula popstep de que estavam dependentes os artistas e os produtores comerciais, e a música pop continuava a precisar de algo novo. Até que chegou o momento que os fez pensar em inovar.
Harlem Shake do DJ Bauuer causou um verdadeiro impacto na música eletrónica e apresentou um género que as massas não conheciam. Soava minimal quando comparado com o que estava a ser feito; familiar e ao mesmo tempo diferente, vigoroso mas, acima de tudo, novo: era trap.
O que é trap?
É um género de música electrónica
originado no Sul dos Estados Unidos da América e que se carateriza por um
ênfase dado ao sub-baixo (sub-bass), à utilização da batida 808 e aos
ritmos metalizados (címbalos/pratos de choque), conjugados com sintetizadores em camadas,
bem como instrumentos de sopro (flautas de pã, sobretudo). Começou por ser
uma derivação do hip-hop sulista mas
rapidamente se difundiu na EDM (electronic
dance music).
Foi uma
lufada de ar fresco para a bass music,
para o cenário da música electrónica e, principalmente, para a música pop.
E rapidamente se tornou a nova moda. Por vezes sob uma vertente mais bubble e ligada ao twerk...
...mas as influências orientais prevaleceram.
Beyoncé
impôs o trap com a sua Flawless, entre címbalos, sintetizadores
dinâmicos e um sub-baixo pulsante.
Dark Horse de Katy Perry com Juicy J oferece-nos um ritmo minimal de estalinhos de dedos e flautas agudas que contrastam com os graves, uma nítida inspiração no
novo género.
Iggy
Azalea recorre a um babytrap com Rita
Ora em Black Widow, quase em imitação à canção anterior.
Lady
Gaga rodeia-se de uma multidão de rappers (T.I., Too Short e Twista) em Jewels N’ Drugs e produz uma sonoridade
tão hostil como a de Harlem Shake.
Fifth
Harmony infiltram breaks deste género ao
longo de Me & My Girls, que inicialmente parecia uma música pop bem mais comum.
Little
Mix também não perdem tempo e acompanham a tendência em Salute, mesmo tentando disfarçar com sirenes e guitarras. A flauta de pã em escalada assemelha-se a uma voz em alguns momentos e os sintetizadores constantes, tal como o ritmo urbano, denunciam a influência trap.
Ainda se fez algum popstep em
2014, mas com muito menos impacto. Exemplos disso são On My Way de
Lea Michele, Sexercize de Kylie Minogue, The Way That
I Am de Tove Lo, Hello Kitty de Avril Lavigne, URL
Badman de Lily Allen e ainda Wonderland,
uma música extra do último disco de Taylor Swift, que quase parece uma I
Knew You Were Trouble 2.0.
Continuamos
a ver o trap, o hip-hop e derivados impor-se como géneros mais populares, sendo Diplo e Mike Will Made It os produtores mais relevantes. A dança de 2013 foi o twerk, que só pode ser praticado ao som de batidas 808. Aliás,
2013 e 2014 foram dois anos inundado com músicas desse estilo e estes são apenas alguns exemplos:
Selena
Gomez experimenta o hip-hop com palmas e um ritmo frenético em Birthday.
Jessie J
reúne os rappers Big Sean e Dizzee Rascal em Wild.
Miley Cyrus aposta neste tipo de sonoridade em músicas como Do My Thang.
Zendaya infiltra as palmas e o sub-baixo típico do hip-hop em Putcha Body Down.
Dj Mike Will Made It junta Miley Cyrus, Wiz Khalifa e Juicy J em 23.
DJ Snake faz da música trap estilo de vida com Lil John em Turn Down For What.
Iggy Azalea traz o hip-hop noventista em Fancy com Charli XCX.
Tal como Fergie em L.A. Love (la la).
Jason
Derulo e Snoop Dogg apoiam-se na onda urbana para o sucesso de Wiggle.
O hip-hop tradicional é reinterpretado por Nicki Minaj em Anaconda.
Numb de Nick Jonas com Angel Haze, seriamente trap.
Jack&Jack lançam a selvagem Wild Life.
Maroon 5 injetam hip-hop em Animals.
Taylor Swift conjuga a temática comercial com o som urbano em Blank Space.
Outra
tendência que surgiu em 2013 e se afirmou em 2014 foi o uso do saxofone nas músicas
pop, conjugando-o com frequência com ritmos hip-hop, estalinhos de dedos e palmas.
Talk Dirty de Jason Derulo com 2 Chainz.
How I Feel de Flo Rida.
Problem de Ariana Grande com o rap de Iggy Azalea e os sussurros de Big Sean.
Bang Bang, o hit urbano de Jessie J com Ariana Grande
e Nicki Minaj.
Shake It Off de Taylor Swift é mais uma das músicas que incorpora saxofone de forma bem-sucedida nos últimos tempos.
E, por último, Mark Ronson com Bruno Mars em Uptown Funk.
Se
os últimos anos sem fôlego nos ensinaram alguma coisa é que a música comercialnão é estática. À medida que falamos,
os seus tentáculos estão possivelmente a bisbilhotar alguma batida, amostra,
etiqueta, género ou ritmo inesperado, procurando maneiras de reunir um punhado
de sons que agradem aos ouvintes e torná-los tendência. É possível
que a nova onda de instrumentos como o saxofone e os revivalismos do passado
tornem o funk a nova tendência; ou talvez morra antes de a música comercial o conseguir adotar. Mas, na
verdade, a única coisa que podemos dizer com certeza sobre o futuro da música
comercial é que não sabemos como é que vai soar.