Não sei se vou publicar assiduamente de agora em diante mas vou fazer três publicações (esta incluída) para vos atualizar sobre música, gíria e moda, como já fiz anteriormente.
Vou resumir todo o rumo que a música comercial (e depois slang, fashion) tem tomado e vou selecionar alguns exemplos, acrescentando alguns parágrafos esclarecedores para cada um deles.
As produções musicais dos últimos tempos têm evoluído em parte como previ no início de 2015 quando fiz um resumo de música da última meia década (podem ver - ou rever - aqui), porém, agora posso simplificar dividindo a direção do comercial por tópicos de tendências:
1) Saxofones (e trompetes)
Lembram-se de na época de Shake It Off e Uptown Funk ter feito a previsão que isto ia ser grande? Parece que acertei e continua a projetar-se muito, a música pop está repleta de horns.
Como começou? Algures entre Macklemore e Jason Derulo (Talk Dirty, Trumpets...) em 2013.
Quem o experimentou? Quase todos os artistas pop.
Quem nos fez enjoar? Fifth Harmony no seu álbum do ano anterior, Reflection, com músicas que repetiram incessantemente nas rádios. Este grupo tem tido muito sucesso e bons hits, mas deram-nos inevitavelmente uma overdose de saxofone. E quem as ajudou a trazer este revivalismo de instrumentos de sopro? Omi com Cheerleader que foi possivelmente a música que mais passou no verão do ano passado.
BO$$ - Fifth Harmony
Worth It - Fifth Harmony ft. Kid Ink
Cheerleader - Omi
Mais algumas, só para uma noção mais clara do alcance gigante deste instrumento na música agora.
Produção eletrizante a de Flo Rida e Demi Lovato apresenta um verdadeiro statement feminista com um som que anuncia uma mulher confiante. E, claro, Sax de Fleur East que, como o nome indica, é saxofone puro. Balada mais popular com trompete no meio foi Love Yourself de Justin Bieber.
GTFR - Flo Rida ft. Sage The Gemini and Lookas
Confident - Demi Lovato
Sax - Fleur East
Love Yourself - Justin Bieber
Irresistible - Fall Out Boy ft. Demi Lovato
Pessoalmente, melhor momento de horns? Veni Vidi Vici de Madonna do álbum Rebel Heart de 2015 (aconselho ouvir!), pura música urbana com um final de trompete legendário depois do rap de Nas, realçando a letra da música sobre quão majestosa foi a sua vida.
[Nota: Melhor remix com esta caraterística? O remix de Flawless com infusão de um trompete a meio da música antes de Beyoncé anunciar a entrada de Nicki Minaj. Nunca me canso de ouvir.]
2) Tropical house + Trap = Tropical urban (+ high-pitch)
O que acontece quando o público se começa a saturar de música trap usada e abusada por todos os artistas? Desde os tempos do berço do trap em Dark Horse de Katy Perry e Flawless de Beyoncé lá em 2013 até à canção "trapizada" Old Ways do mais recente álbum de Demi Lovato (aconselho ouvir!), passando pelo trap muuuuito discreto no ritmo de High By The Beach de Lana Del Rey e pela balada do mesmo estilo Sorry de Beyoncé que é o hino do ano no que toca a traições.
E quem diria que até Madonna faria Iconic forçando-se a acompanhar a direção da música moderna.
E vamos reconhecer, é um género fenomenal? Completamente, mas toda a gente já o fez, já passou em todo o lado e até já há publicidade que é feita com este tipo de som.
Especialmente depois de David Guetta ter feito a música do Euro 2016 com Zara Larsson neste tipo de premissa e David Carreira ter utilizado também música trap no break de Primeira Dama tentando ser a nova Lean On, estávamos mesmo a precisar de uma reviravolta neste género musical.
Qual foi a solução dos produtores?
Fundir a sua vibe urbana derivada do hip-hop com os ritmos do house e sintetizadores tropicais que nos remetem para o verão. Os estalinhos, batidas metalizadas e palmas podem manter-se mas trazem toda uma aura de verão suavizada e menos ghetto.
Resultado?
Uma produção original, porém com as mesmas vozes ultra-agudas como se fossem flautas ou golfinhos a comunicar. Podemos chamar neo-trap? Ou tropical urban.
Exemplo perfeito?
Where Are U Now da dupla de Diplo e Skrillex com Justin Bieber, onde a voz de Bieber distorcida para um som ultra-agudo fez toda a melodia entre os refrões. Foi um hino no final do ano passado e uma porta que se abriu para reinterpretar o trap de todas as formas possíveis. Puro tropical urban.
As Fifth Harmony estão a trocar o tradicional saxofone e a fazê-lo no novo álbum 7/27 (aconselho ouvir!), particularmente na música I Lied onde o mesmo estilo de voz em high pitch (distorcida para agudo) nos faz dançar como se já não conhecêssemos este tipo de som.
E a realidade é que está EM TODO O LADO! Parece raro senão impossível encontrar uma música no topo das paradas musicais que não tenha pelo menos uma brincadeira com um loop repetido num timbre que imita o som de golfinhos.
Britney no primeiro single do álbum que saiu há pouquíssimos dias aposta nisso mesmo também, basta apreciar os sons de fundo de Make Me... para perceber que não são baleias bebés a pedir ajuda mas sim o efeito sonoro que tenta manter atualizada a antiga princesa do pop.
Se isto é o que os descendentes do trap continuam a fazer ao pop todo este tempo depois, agradecemos porque é pura adrenalina musical e já chegou a produções portuguesas de muita qualidade como Wall Of Love dos Karetus com Diogo Piçarra. Embora tenha a batida acelerado de drum'n'bass, o break de vozinhas é assumidamente o orientador da música.
Mais uma vez, podia colocar uma quantidade infinita de exemplos como se não estivéssemos fartos de reconhecer este tipo de som que nos rodeia por toda a rádio, mas vou deixar apenas as três melhores porque me fizeram clicar muitas vezes replay ultimamente.
Sober - Selena Gomez
Youth - Troye Sivan
I Took a Pill In Ibiza - Mike Posner
Let Me Love You - Dj Snake ft. Justin Bieber
The Ocean - Mike Perry ft. Shy Martin
3) Vozes distorcidas para grave - low pitch
Não preciso explicar muito porque é o que o nome indica: consiste na distorção da voz do artista para um timbre muito mais grave para conferir intensidade a uma palavra, frase ou verso.
Existe no hip-hop há imenso tempo e são os rappers que normalmente utilizam esta tática para atribuir agressividade e destaque a determinada rima ou momento da produção.
O que a música comercial fez foi resgatar essa caraterística e creio que começou quando toda a onda urbana entrou na moda em 2013, por exemplo em Dark Horse a voz de Katy Perry na frase "There's no going back!", no low-pitch de "This is how we do" ou na voz monstruosa de Miley Cyrus em We Can't Stop que aparentemente anunciaram a tendência.
Todos os restantes cantores e cantoras limitaram-se a imitar. Falta de originalidade? Como em todas as tendências que moldam o gosto da população e definem uma geração, sim. Efeito fantástico? Também! Soa poderoso, masculinizado e urbanizado, e é sem dúvida um momento de destaque que parece manter-se em voga durante muito tempo.
Deixo três das imensas músicas com este low pitch porque - como dizem os editores de moda: "um a fazer é um louco, dois é coincidência, três ou mais é tendência".
Momento favorito: Nicki Minaj e Beyoncé durante todo o hip-hop puro de Feelin' Myself têm palavras assim, mas o verso "We dope girls, we FLAWLESS" tira-me sempre a respiração.
Presente no final de Bitch Better Have My Money em toda a força como se Rihanna se tivesse transformado num serial-killer com a voz mais grave do mundo.
Aliás, várias são as músicas nesta publicação que apresentam este pormenor pelo menos quando a música está a acabar ou muito discretamente entre versos (Fools - Troye Sivan; If It Ain't Love - Jason Derulo; todo o álbum Pinkprint de Nicki Minaj,...), e existem tantas que tornariam este post infinito inclusive artistas não comerciais (My Song 5 - Haim, etc.). Estejam atentos ao que ouvem porque está em todo o lado.
Uma canção que é um autêntico resumo do som em voga porque reúne as três tendências anteriores? 1) Saxofone, 2) derivados do trap com vozes em high-pitch e 3) Voz em low pitch também: Gibberish de MAX. Sem dúvida, um must listen repleto de clap, estalinhos e afins.
4) Coro de crianças
Esta é uma tendência muito recente e que nunca nem num milhão de anos eu iria adivinhar que ia acontecer. Partilho de seguida algumas músicas nas quais devem ter reparado um conjunto de crianças a acompanhar o refrão.
Terá o propósito de dar inocência à música? Não faço ideia.
Original? Por enquanto, parece que sim.
Sia traz uma aura muito tropical em Cheap Thrills acompanhada por um grupo de crianças que gritam "I love cheap thrills!" sempre que ela diz uma frase do refrão. No mínimo, divertido.
O novo caloiro da música e que conquistou o meu coração com todo o álbum Blue Neighbourhood (aconselho mesmo, mesmo muito ouvir!) por usar as tendências musicais em todas as canções mas sobretudo por ter letras arrebatadoras sobre romance gay com vídeos fabulosos.
Que venha muito mais de Troye Sivan, inclusive replays da música Wild, onde ele nos traz vozes de crianças que o ajudam a infantilizar o hip-hop com doces "wi-i-ild" e "hey".
Demasiado perfeito e, pessoalmente, melhor revelação do último ano!
Esta música tem sido excelente nas rádios porque explora simultaneamente o tropical urban e esta nova onda do coro de crianças, onde elas cantam "I feel like a millionaire, whenever she comes around, whenever I hear that sound". Produção viciante.
E não poderia faltar a radiofónica Mama Said na qual a voz de miúdos cria todo ambiente relativo à temática da música desejado por Lukas Graham.
*******BÓNUS*******
Tendências de videoclipes e imagem:
1) Iluminação colorida (especialmente rosa)
Quando tudo começou pensei que era engraçado e remetia para discotecas vintage dos anos 70, 80 e 90, mas neste momento TODAS AS ALMAS DESTE PLANETA O FIZERAM.
Quando Beyoncé o fez com Partition lá em 2013 e Jessie J, Ariana Grande e Nicki Minaj o fizeram em Bang Bang em 2014, particularmente nas luzes da cidade do vídeo e no cenário onde Ariana Grande aparecia, ficou fantástico e original.
Quando todos os artistas neste mundo (David Carreira, estou de olho nessa iluminação vermelha do final do vídeo de Primeira Dama!), desde o maior hino de Rihanna este ano até à sensualidade de Demi Lovato ou reafirmação de Madonna no ano passado, recorreram de alguma forma a esta modinha, não sei se penso que o realizador dos vídeos é sempre o mesmo ou é o mundo que adora mesmo esta iluminação. Digo todos porque os que não o usam assumidamente, usam pelo menos num detalhe do vídeo discretamente sem falta.
Desde vermelho a verde, mas com destaque especial para o rosa, esta tendência é impossível de ultrapassar. De qualquer forma, aqui estão alguns exemplos das dezenas de vídeos assim:
Want You To Want Me - Jason Derulo
Worth It - Fifth Harmony ft. Kid Ink
Do It Again - Pia Mia ft. Chris Brown, Tyga
The Night Is Still Young - Nicki Minaj
Bitch I'm Madonna - Madonna ft. Nicki Minaj
Here - Alessia Cara
Cool For The Summer - Demi Lovato
Me, Myself & I - G-Eazy x Bebe Rexha
Pillowtalk - Zayn
Work - Rihanna feat. Drake
Cruel - Snakehips ft. Zayn
Lush Life - Zara Larsson
Toothbrush - DNCE
Gibberish - Max ft. Hoodie Allen
I Took a Pill In Ibiza - Mike Posner
Hotline Bling - Drake
Can't Feel My Face - The Weeknd
Rock Bottom - Hailee Steinfeld ft. DNCE
Youth - Troye Sivan
All My Friends - Snakehips ft. Tinashe, Chance The Rapper
Weekend - Louis The Child & Icona Pop
Dangerous Woman - Ariana Grande
E Ariana Grande está de facto a passar uma febre com esta tendência, porque todos os vídeos do seu novo álbum têm esta iluminação! E não parece estar a chegar ao fim pelo que verificamos na parceria mais recente da cantora com Nicki.
Side To Side - Ariana Grande ft. Nicki Minaj
On My Mind - Ellie Goulding
Ellie na fantástica música acima reúne tanto o trend que estamos a tratar como o seguinte.
E quem fez o mesmo foi Rita Ora e Charlie XCX. Bomb girls!
Doing It - Charlie XCX ft. Rita Ora
2) Desertos
Nada de mais. O deserto fica bastante artístico nos vídeos e fez-se muitos vídeos assim nos anos 90, afinal quem não se lembra de Shania Twain em That Don't Impress Me Much? Icónico.
Agora tem-se intensificado e para já está controlado ao contrário do trend anterior que está num nível de epidemia!
Hey Mama - David Guetta ft. Nicki Minaj, Bebe Rexha and Afrojack
Five More Hours - Deorro x Chris Brown
Ex's & Oh's - Elle King
Fast Car - Jonas Blue ft. Dakora
O meu vídeo favorito, tanto pelo guarda-roupa como pela sonoridade tropical, é da grande artista MØ que gravou o seu último single também no deserto. Impossível não querer ver (ou rever).
Esta é uma novidade e usa os próprios erros que a tecnologia pode cometer propositadamente para efeitos visuais interessantes. Cria efeitos pixelizados e má frequência de forma dinâmica.
O exemplo mais íconico é a distorção digital (será mesmo coincidência ser esse o nome do álbum?) de Iggy Azalea no vídeo da sua recente Team muito trabalhada no ritmo hip-hop e no trap.
O agora famoso Alan Walker traz no seu recente single uma pessoa que passeia pela cidade e os prédios pixelizam-se com uma distorção propositada que nos remete para tecnologia estragada.
Bebe Rexha une-se a Nicki Minaj para uma produção divertida na qual conjugam a popular luz rosa em alguns cenários com efeitos de pixels e erros de frequência de ecrã ao longo do vídeo.
E quem diria que a pouco conhecida Becky G ia querer cumprir três trabalhos de casa de uma vez só com um vídeo com 1) iluminação rosa, 2) cenários de deserto e AINDA 3) erros digitais da imagem em alguns momentos do vídeo! E claro que, mesmo em espanhol, a produção da música trouxe-nos tropical urban na sonoridade.
É bem provável que esta estética ainda venha a aumentar com o tempo. Ou talvez não.
Uma coisa é certa, Meghan Trainor decidiu conjugar esta tendência com a que vou falar a seguir, no videoclipe da sua música de libertação feminina, No. Gravou num espaço que aparenta ser uma garagem ou uma casa de máquinas, incluindo efeitos visuais de má frequência no início e em alguns momentos durante a música, surgindo as distorções da imagem tão trendy a acompanhar os ritmos.
Uma coisa é certa, Meghan Trainor decidiu conjugar esta tendência com a que vou falar a seguir, no videoclipe da sua música de libertação feminina, No. Gravou num espaço que aparenta ser uma garagem ou uma casa de máquinas, incluindo efeitos visuais de má frequência no início e em alguns momentos durante a música, surgindo as distorções da imagem tão trendy a acompanhar os ritmos.
4) Garagens e espaços abandonados
Este cenário funciona muito bem com músicas emocionais, de desilusão, que tentam transparecer sofrimento ou abandono. O local abandonado representa o coração partido, por isso é normal que as seguintes canções tenham aproveitado esta tendência para se perceber melhor a mensagem.
Hoje em dia, parques de estacionamento e garagens parecem ser o local ideal para exteriorizar emoções em videoclipes. Veremos se a tendência aumenta ou acaba por desvanecer.
Elastic Heart - Sia
Stitches - Shawn Mendes
Close - Nick Jonas ft. Tove Lo
Activated - Cher Lloyd
Faded - Alan Walker
Don't Hurt Yourself - Beyoncé
5) Retorno dos vídeos a preto e branco
Kiss It Better - Rihanna
Write On Me - Fifth Harmony
Sorry - Beyoncé
Waitin For You - Demi Lovato ft. Sirah
Kill Em With Kindness - Selena Gomez
Wolves - Kanye West
Por isso, até breve no próximo relato de tendências!
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