quarta-feira, 18 de março de 2015

MÚSICA: Review do álbum "Aquarius" de Tinashe


Aquarius (2014) - Tinashe

1) "Aquarius" - ☆☆☆☆


O nome da música de abertura do albúm homónimo é o signo da cantora, sendo por isso a receção dada por Tinashe na sua vertente mais intimista. O ritmo suave e as harmonias conjugam-se na perfeição com a voz sussurrante que nos apresenta um novo mundo por entre estalinhos de dedos. "The age of Aquarius, the dawn of a new era".

2) "Bet" (feat. Devonté Hynes) - ☆☆☆☆



Segue-se "Bet", um R&B urbanizado e repleto de ecos distorcidos que dão uma dinâmica surpreendente à música. A letra parece ser acerca de arrependimento mas, na realidade, é sobre não abandonar a pessoa com quem está, misturando-se com a sonoridade até que no fim Hynes nos injeta um solo de guitarra que torna a música ainda mais surpreendente. "When you're sick about the past, but past is the only system to beat about to come".

3) "Cold Sweat" - ☆☆☆☆


A vida em Los Angeles e a solidão são expostas pela cantora em tom de desabafo sobre graves sintetizados. "I like being alone (...) 'Cause the city ain't kind." As enumerações sensuais embalam-nos e dão profundidade à música, o que nos leva a crer que Tinashe pretende ser comercial sem cair exageradamente no mainstream.
"Cold on my mind, yeah, ice dripping, cold sweat."

4) "Nightfall (Interlude)" - ☆☆☆☆


Aqui temos um breve interlúdio, onde é possível ouvir Tinashe a rir e a tossir, vidros e o som de líquidos a escorrer, fazendo referência à bebida e à segunda parte do álbum que está prestes a começar. Este (e qualquer interlúdio) faz mais sentido se as músicas forem ouvidas por ordem, uma vez que servem como ligação das várias temáticas.

5) "2 On" (feat. SchoolBoy Q) - ☆☆☆☆


A escolhida para primeiro single fica facilmente no ouvido e oferece-nos o seu lado irresponsável e divertido, falando de álcool e maconha, com a participação do rapper SchoolBoy Q. "Just give me the trees and we can smoke it ya, just give me the drink and we can pour it ya". É uma música urbana feita por DJ Mustard, com o compasso marcado pelos hey, hey, hey, hey do produtor que colocam Tinashe ao nível de outras cantoras atuais.

6) "How Many Times" (feat. Future) - ☆☆☆


O  sensual monólogo em francês é apenas o início de uma sedução bastante literal: "How many times can we make love in one night?". A participação de Future não era de todo necessária; porém, onde a música peca realmente é na repetição excessiva da frase que forma o refrão, não contribuindo para o repertório da cantora, recorrendo inclusive a uma das expressões do momento "turn up, turn up" para o aborrecido soar moderno.

7) "What Is There To Lose (Interlude)" - ☆☆☆☆


Depois da madrugada, somos confrontados com questões existenciais relativas aos acontecimentos da noite, porque depois de todo o prazer e despreocupação costuma vir uma fase de reflexão. E essa preocupação reflete-se na música que se segue.

8) "Pretend" (feat. A$AP Rocky) - ☆☆☆☆


Tinashe elegeu como single uma música com A$AP Rocky, cuja letra é a melhor do albúm. "Can we pretend that everything is like yesterday? (...) I wanna pretend". A cantora procura soluções para resolver a situação difícil do relacionamento, entre elas imaginar uma rutura: "Let's pretend I ain't your friend so we can get it on again." Propõe também fingirem que nunca se conheceram para seguirem em frente: "Let's pretend we never met, a good excuse to play forget." Mas acaba por ser sincera, assumindo que traiu e que está a fingir que ainda ama.

9) "All Hands On Deck" - ☆☆☆☆


Atualização: "All Hands On Deck" feat. Iggy Azalea - ☆☆☆☆


Stargate é um produtor de qualidade e mostrou isso mesmo aqui, onde as notas de baixo antes do refrão nos envolvem numa aura irreverente. "Kiss the old me, goodbye, she's dead and gone." Assim como "Bet" e "How Many Times", "All Hands on Deck" é um hip-hop midtempo, soando porém mais radiofónica que as anteriores. Os sintetizadores frenéticos são conjugados com batidas orgânicas, dando-se ainda a infusão de uma flauta a 3/4 do fim. A música entretanto foi reproduzida, incluindo agora Iggy Azalea, uma das rappers do momento. Seja qual for a versão, é uma das melhores músicas do álbum.

10) "Indigo Child (Interlude)" - ☆☆☆☆


É impossível não sentir o futurismo deste interlúdio. E é isso mesmo que a cantora pretendia ao entoar uma profecia robotizada. Para quem não sabe, "criança índigo" diz respeito às novas gerações (em particular, as gerações Y e Z), com caraterísticas especiais como intuição e grande sensibilidade ética, que - segundo algumas teorias - têm o objetivo de implantar uma nova era na Humanidade. Serve, por isso, como um recomeço no álbum.

11) "Far Side Of The Moon" - ☆☆☆☆


Com sintetizadores imersos no cenário de renascimento ao qual a cantora se propôs, temos uma hesitação no término de um romance. Questionamo-nos se ainda é a mesma pessoa de "Pretend" ou se desta vez Tinashe está a ponderar acabar com uma ligação diferente. "What it really take to truly be happy, sick of wishing holding on to empty love ambitions, happily ever after seems like fiction."

12) "The Calm (Interlude)" - ☆☆☆☆


Todo o turbilhão de pensamentos e emoções são quebrados por um novo interlúdio. Em "The Calm" é possível identificar alguém a falar à distância e o mar que traz a tranquilidade que parecia faltar.

13) "Feels Like Vegas" - ☆☆☆☆


Depois da pausa anterior, "Feels Like Vegas" é outro dos pontos altos do material. Ouvem-se gemidos masculinos abafados que acompanham quase toda a música e que no início antecedem um sintetizador hipnótico. A cantora começa a cantar e surge um ritmo urbano, onde ela se rende à paixão, às luzes e ao champanhe. Diz ainda que se sente como em Las Vegas, predominando em toda a letra o hedonismo da máxima "o que acontece em Vegas, fica em Vegas".

14) "Thug Cry" - ☆☆☆


Sendo uma produção de Mike Will Made It, é compreensível que as expectativas do ouvinte fiquem altas, mas "Thug Cry", no meio de tantos hinos, não é um dos destaques. É uma afirmação de amor onde a protagonista se mostra confiante para converter o seu par ao romance. A letra não é complexa e a sonoridade é apenas aceitável, levando-nos a crer que serviu como filler no albúm.

15) "Deep In the Night" - ☆☆☆☆


Como último interlúdio foi escolhido "Deep In The Night", que nos emociona com um piano enquanto a cantora em criança canta ao fundo. Parece marcar uma fase de referência ao passado, para além de mostrar o valor pessoal que Aquarius tem para Tinashe.

16) "Bated Breath" - ☆☆☆☆


"Bated Breath" é a única balada assumida do material, onde podemos sentir a cantora entregar-se a algo despretensiosa e emocional. A batida 808, aqui tão espaçada, soa frágil juntamente com a letra que nos remete para acontecimentos anteriores. Fica também subentendido que o amor é mais frágil do que seria de esperar, com a desistência e o peso na consciência ("What if I told you that it was all in vain? Would it still hurt you?") a contrastar com a esperança de vir a ser feliz ("Maybe I can tell you, maybe we can do this, kisses on my forehead, we can fall into it").

17) "Wildfire" - ☆☆☆☆


Na sonoridade de "Wildfire", para além de sons enérgicos e estalinhos, somos presenteados com oscilações de baixo contagiantes. Quanto à letra, a cantora ainda fala do passado ("You were my sweet summer song, but the summer's gone and I can't keep your fire burning"); contudo, apresenta-se mais vigorosa do que na música anterior, comparando a sua relação inconstante a um incêndio selvagem. "Wildfire, flames rising, hit me like a bullet, finger on the trigger, pull it." Consegue seduzir o seu par (e o ouvinte também) pela última vez, concluindo depois que o melhor para ambos é separarem-se.

18) "The Storm (Outro)" - ☆☆☆☆

(o youtube não permite pré-visualizar este vídeo, pelo que o link deve ser aberto para audição)

Para finalizar, existe "The Storm", um poslúdio que pode ser facilmente interpretado pelo simbolismo do trovejar e da chuva a cair, para além do piano que parece lamentar-se e da voz que canta sem ter letra, fechando o álbum com mestria.


Análise geral:
Letra - ☆☆☆☆
Sonoridade - ☆☆☆☆
Conceito - ☆☆☆☆☆

Avaliação final:
☆☆☆☆

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