sábado, 23 de maio de 2015

MÚSICA: O que significam os animais e o mundo selvagem na música atual

Suponho que prestam atenção às músicas que ouvem no dia-a-dia ou, se ouvem rádios comerciais, às músicas que costumam passar nessas mesmas rádios.
Antes de mais nada, não posso deixar de referir o álbum Animal e o EP Cannibal de Kesha de 2010, por terem marcado a vários níveis a música pop da década em que estamos e a temática ter sido uma delas. Para não andar muito para trás no tempo, deixo-vos apenas a sugestão e vou prosseguir com a análise.



Indo à raiz da tendência analisada neste post, destaca-se a inspiração africana do videoclipe de Run The World (Girls) em 2011. O cavalo, o touro, o leão e as duas hienas são meros simbolismos da expressão bravia da cantora que, aliada à paleta de cores e agressividade inerente, poderia ser uma escolha pessoal de Beyoncé se ela não fosse uma das artistas que mais prevê e aplica tendências.


Segue-se Rihanna com Where Have You Been. Se nesta altura os lyrics ainda não tinham sido infetados pelo tema em questão, os visuais tribais, os padrões e os acessórios bem como os cenários áridos indicavam um modelo naturalista que iria ser seguido no futuro em vídeos de outros intérpretes.


Take Care, também em 2012, com Drake, teve uma realização intimista e que revelava a fragilidade da música, dando-se destaque aos grandes planos de uma ave, de um peixe e de um touro.


Em meados de 2013, Jessie J lança Wild, a primeira música do seu segundo álbum, anunciando que a sua fantasia se concretizou e o seu par romântico corre juntamente com ela de forma selvagem.
"In my fantasy we're running wild".


Katy Perry, também na linha da frente, lança o álbum Prism do qual o primeiro single foi Roar, uma música de autoafirmação que consolidou a tendência a dois níveis: estético e lírico. A história do vídeo passa-se na selva, onde a cantora se rodeia de várias espécies de animais que interagem com ela. Na letra diz conseguir flutuar como uma borboleta e picar como uma abelha, deixando-nos o refrão que inundou as rádios desta altura no qual afirma que tem um olho de tigre e vai rugir mais alto do que um leão.
"Now I'm floating like a butterfly, stinging like a bee I earned my stripes (...) I got the eye of the tiger (...) Louder, louder than a lion (...) you're gonna hear me roar".


Em Swine, Lady Gaga mostra sem receio que a pessoa com quem se envolve é um animal, um roedor e um porco num corpo humano, admitindo que quando está com ele não pensa e age como um suíno também.
"You're just an animal (...) Deep down you're just a shrew (...) Cause it's when I'm not thinking with you that I act like a swine (...) I know you want me, you're just a pig inside a human body (...) Squealer (...) you're just a pig inside".


O rapper T.I. que participa na música Tik Tik Boom de Britney Spears, afirma que ela gosta da maneira como ele a trata como um animal e ironiza apelando para que alguém chame a sociedade protetora dos animais. "She likes the way I eat her, beat her, beat her, treat her like an animal, somebody call PETA"



Natalia Kills expõe os seus pontos fortes e fracos no álbum Trouble, mas só nos revela realmente a sua sexualidade na música Rabbit Hole, onde diz comer rapazes como uma canibal, fazer sexo enquanto uiva à lua como um animal e canta ainda que quando se apaixona é como se caísse na toca de um coelho.
"Cause I eat boys like a cannibal, fuck hard, howl at the moon like an animal (...) When I fall in love, I fall down the rabbit hole".


No final de 2013, o house holandês teve os seus cinco minutos de fama, com Martin Garrix como cabeça de cartaz e Animals como hit principal. Se ouviam música eletrónica nesta altura, de certeza que conhecem a tirada "We're the fucking animals" seguida por uma sequência de sintetizadores em xilofone. Quanto ao videoclipe, não podia ser mais literal: os figurantes a usar máscaras de animal.

Katy Perry, lança Dark Horse do mesmo álbum referido acima, voltando a incluir animais, neste caso impondo-se como um cavalo negro que se dirige ao seu par romântico para lhe dar o amor que o vai fazer levitar como um pássaro sem gaiola. Juicy J, o rapper que participa na música, declara que ela é como uma besta que devora corações.
"Cause I'm coming at you like a dark horse (...) Like a bird without a cage". "She's a beast, I call her karma, she eats your heart out like Jeffrey Dahmer".


Iggy Azalea e Rita Ora, possivelmente na tentativa de atingir o sucesso da música anterior, recorrem a uma sonoridade semelhante em Black Widow e, no que toca ao tema em análise, assumem-se como uma aranha viúva-negra, pois prendem a pessoa por quem estão apaixonadas numa teia quando esta, depois dos jogos iniciais de gato e rato, se quer afastar.
"This  twisted cat and mouse game always starts the same (...) But now you wanna be set free, this is the web, web that you weave (...) I'm gonn love you like a black widow, baby".


Pitbull, que faz quase sempre questão de estar em cima do acontecimento, junta-se às GRL e lança Wild Wild Love, onde elas cantam acerca de ninguém conseguir domar o seu amor e o rapper compara a sua paixão a uma gatinha que ele quer afagar e diz conseguir criar um cenário selvagem, sujo, esquisito e aberrante, acrescentando que gosta de mulheres livres e não acorrentadas. "Oh-oh, this wild wild love of ours, it can't be tamed (...) And when it comes to that pretty little bitty kitty (...) let me pet it, I got that wild love, love to get wild, dirty, freaky, nasty (...) I like my women fine, I like them off the chain"



Troye Sivan, um vlogger do Youtube a dar os primeiros passos na indústria musical, faz uma abordagem emocional semelhante a Take Care com a sua Happy Little Pill, figurando ao longo do vídeo uma coruja a voar em câmara-lenta e incluindo ainda um lagarto.


A banda Maroon 5 traz também em 2014 um vídeo de carnificina e uma letra muito explícita quando exploram a tendência em Animals. Adam Levine canta sobre perseguir, caçar e comer a sua "presa" viva, alertando que ela pode fugir e procurar outros peixes no mar, mas não se consegue esconder porque ele, como bicho selvagem que é, a encontra pelo odor. Relembra os sons que ela faz e a maneira como o faz cair ao chão e rebolar e, caso restassem dúvidas, uiva como um predador canino em determinado momento da música. Pede ainda que ela não negue o animal que se revela quando ele está dentro dela.
"I can still hear you making that sound, taking me down rolling on the ground (...) Baby, I'm preying on you tonight, hunt you down, eat you alive (...) you can find other fish in the sea (...) Maybe you think that you can hide, I can smell your scent from miles (...) Just like animals (...) But don't deny the animal that comes alive when I'm inside you".


Por esta altura, um duo desconhecido da maioria tem sucesso com Wild Life, uma música sobre vida selvagem com um videoclipe inserido na mesma estética. A sonoridade urbana, com estalinhos, palmas e ritmos metalizados, bem como o sub-baixo pulsante, incorpora aqui sons de cascata e tambores africanos para além de bramidos de elefante, guinchos de macaco e até rugidos que em certo momento transformam a voz de um dos intérpretes de Jack & Jack na de um leão.
"Nocturnal animals, we don't sleep (...) I'm sweating like the Amazon, a hundred degrees and that back side's bigger than a family tree (...) Now you're talking to the king of the jungle, we got lions, tigers, bears".


Os produtores musicais e os diretores criativos têm explorado a vertente indomável do ser mais domesticado de todos - o Homem - daí os artistas continuarem a lançar músicas onde abordam este assunto, mas para não tornar este post ainda mais extenso ficam apenas os exemplos já dados.
Ainda que fazer um vídeo num ambiente tropical e em particular no deserto seja a coisa mais óbvia neste momento (basta ver o novo videoclipe de David Guetta com Nicki Minaj e Afrojack para Hey Mama), o ambiente selvagem tem uma justificação: a dominância e a submissão são caraterísticas de todas as espécies, não importa a raça, o género ou a parte do mundo; logo, não devem ser negadas. O ser humano limita-se a camuflar os jogos sexuais e de poder com normas sociais.
Mas tal como dizem Nicki Minaj e Ariana Grande em Get On Your Knees, no fundo somos apenas animais e, antes de podermos andar, temos de saber rastejar. Ou seja, para nos podermos distinguir como seres racionais precisamos de estar à vontade com o nosso lado mais básico e animalesco.
"Cause we are just animalsBaby, it's primalI want you on all fours and before I let you walk, you gotta show me how you crawl".


Será que isto significa que estamos saturados de ser civilizados e prontos para explorar sem medos o nosso espírito animal?

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